segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Diário da Dilma Luluzina - Agosto/11

Diário da Dilma
PUBLICADO NA EDIÇÃO DE SETEMBRO DA REVISTA PIAUÍ ED. 60

1 de agosto – Agosto, mês de cachorro louco. Estou com mau pressentimento. Pedi para a mamãe dar um banho de sal grosso no Nego. Chamei o Jobim para propor uma trégua. Juntei meu mindinho no dele para sinalizar que estávamos de bem. Expliquei que não vou mais ficar tomando conta de marmanjo. Quem tem filho grande é elefante. Na saída, perguntei se ele tinha dado mais alguma declaração estapafúrdia e ele respondeu: “Para nenhum veículo de porte, presidenta”. Fiz um coraçãozinho com as mãos.
2 de agosto - Gleisi chegou atrasada para uma reunião. Disse que pegou um retorno errado e teve que parar num posto de gasolina para pedir informações. Sei. Recebi ontem os líderes da base aliada. Estavam em polvorosa por causa da faxina. Fizeram beicinho, bateram o pé, ameaçaram travar a pauta, colocar ovo podre no cano da descarga do carro presidencial, xingar muito no twitter e me cortar dos amigos no Facebook. Levantei o braço, mexi os dedinhos e mandei: “Conversem com a minha mão”. Edison Lobão mudou de perfume. Continua cheiroso. Esse homem exala libido. Se tivesse classificação etária, Lobão seria proibido para menores de 35 anos.

3 de agosto - Obama ligou para pedir uns trocados. Impus uma condição: só emprestava se ele repetisse três vezes “Cozinheiro cochichou que havia cozido chuchu chocho num tacho sujo”. Nem nos meus tempos de terrorista imaginei fazer coisa parecida. Ah, se o Che me visse…

4 de agosto - Mamãe me acordou esbaforida dizendo que o Jobim tinha dito barbaridades sobre a Gleisi e a Ideli numa entrevista para um periódico do Piauí. Fiquei uma arara. Estava tendo um sonho bom em que eu era a Marieta Severo, na época do Chico. Mamãe sabe me deixar de mau humor. Passei a vista no Diário de Teresina e na Tribuna do Piauí, e nada. Achei estranho. Fui correndo para o gabinete da Helena Chagas tentar entender o bafafá. No caminho cruzei com a Gleisi, que me perguntou o que eu estava fazendo no Ministério da Pesca. Confusa, essa menina. Finalmente botei as mãos na tal entrevista. Mas é grande demais! Vou demorar dias para ler tudo isso. Será que não sabem escrever curto e com letrona? Pedi à Helena que fizesse umas fichas. Me disseram que o Jobim está na Amazônia. Mandei achá-lo, mesmo que precisem redirecionar todos os radares do Sivam. Se ele resistir, a ordem é abater. E se o Lula vier com nhenhenhém fuzilo também o Genoíno.

7 de agosto - Que loucura esse quebra-quebra na Inglaterra. Fiquei grudada na tevê à espera da princesa Kate, mas ela não apareceu. Estranho. Tem tempo que ela não lança uma modinha. Vou ligar para o Cameron. Pus o Amorim no Ministério da Defesa porque, como o Vandré, também acredito nas flores vencendo os canhões. E depois aquele cabelo impõe respeito.

9 de agosto - Juntei a ministrada toda para um papo reto. Andei ouvindo fofocas sobre viúvas do Lula, saudosos do FHC e e uma gentalha incomodada com meu jeito, que dizem ser ríspido. Como se eu tivesse pouca paciência com esse bando de dromedários e incompetentes, que ódio! Lá na Bulgária, em 1945, o pessoal costumava dizer: “Em tempo de guerra, urubu é frango”. A partir de agora, quem for acusado de corrupção está na rua. Tenho mais o que fazer do que ficar aturando chororô de ministro. Minha cutícula está um lixo, não faço luzes há semanas e nem sabia que a Norma ficou má.

12 de agosto - Pelas barbas do Engels! Mas até o Pedro Novais?! E eu que tinha esperança de que aquela energia toda fosse revitalizar o Ministério do Turismo.

13 de agosto - Meus nervos estão ruins. Mamãe acha que é o estresse. Cismou de mostrar umas posições de hataioga. Pôs no som um mantra do “Homem de Bem”, acendeu um incenso e tentou me ensinar a controlar os chacras. Controlei tanto que caí no sono. Quando acordei, estava com a perna enroscada no pescoço. Só desatou com emplastro Salompas e dois Valium. Por que ainda ouço a mamãe? Parece que a Norma vai morrer. Li no minhanovela.com.br que até gravaram um final falso para despistar a imprensa! Lembrete: perguntar para Helena Chagas como esse pessoal faz para despistar a imprensa. Vou à cozinha e dou com a Gleisi que, surpresa, me pergunta o que eu estava fazendo na casa dela.

16 de agosto - É hoje que a Norma morre. Desmarquei todos os compromissos a partir das 19 horas e pedi para titia comprar pão de queijo congelado. Ai, estou apegada a esse iPad. Sucumbi ao imperialismo, não adianta. Baixei um aplicativo para organizar minha agenda, outro com uma porção de bastidores das séries que acompanho. Tem até horóscopo!

17 de agosto - O Chico lança disco novo e ninguém traz?! Nem a irmã dele, cuja única função é essa? “O que será que me dá, que me bole por dentro, o que será que me dá…”

18 de agosto - Hoje tenho função ao lado do FHC. Eita homem civilizado. O cabelo azul lhe ficou ótimo. Sempre me recomenda um escritor chileno, un vinho argentino, um filme panamenho. Chego tarde em casa e tenho de aturar O Astro. Sempre que vejo aquele menino de turbante me lembro do João Santana.

19 de agosto - O Wagner Rossi pediu demissão? Isso ninguém me avisa. Era ele o do Turismo? Cedi à pressão política e participei de mais uma reunião para ouvir reclamações sobre a faxina, algemas, blá-blá-blá. Vem cá, esse pessoal não trabalha, não? Passados dois minutos de rame-rame, cravei os olhos no meu iPad. Passei o resto do tempo assistindo à terceira temporada de Sex and the City. Gosto muito dessa Samantha.

20 de agosto - Era o que me faltava: o Bernardo passeando de jatinho de empreiteira! Dei-lhe uma chamada na chincha. E ele só repetia: “Foi sem querer, senhora presidenta”. Ainda bem que o Sarney apareceu de helicóptero, matando uns pobres. Repito: no Maranhão, urubu é frango.

24 de agosto - Gosto de cabo de guarda-chuva na boca: aniversário do suicídio do Getúlio. Já foi uma data importante. Mas, com o Lula, ninguém mais tem tempo de sair da vida para entrar na história. O sal grosso provocou urticária no Nego.

25 de agosto – Esse pessoal da Forbes me colocou como terceira mulher mais influente do mundo. Mal sabem eles que quem manda lá em casa é a mamãe.

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